O tratamento do diabetes no Brasil enfrenta um obstáculo significativo: a baixa adesão dos pacientes às consultas e tratamento. Essa realidade não apenas compromete a saúde dos indivíduos, mas também impacta diretamente os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com hospitalizações e cuidados necessários decorrentes das consequências de diabetes. De acordo com dados do levantamento Vigitel, feito pelo Ministério da Saúde, a frequência do diagnóstico autorreferido de diabetes foi de 10,2% da população. Apesar da alta incidência, a adesão ao tratamento é muito baixa no Brasil.
O médico Leonardo Scandolara Junior foi diagnosticado com diabetes tipo 1 aos sete anos e conhece bem as dificuldades que os pacientes enfrentam. Ele explica que três fatores dificultam a adesão ao tratamento: a complexidade da doença, a falta de conhecimento e a natureza silenciosa da doença. “O diabetes exige muito tempo e dedicação do paciente. É muita decisão ao longo do dia, e isso cansa. A doença demanda um monitoramento constante, afetando praticamente todas as rotinas diárias do paciente”, explica.
O nutricionista Felipe Muller corrobora essa visão e acrescenta que a maioria das pessoas não sabe contar carboidrato, nem sabe que o estresse impacta na glicemia. “Como ele começa a envolver um tempo muito grande da rotina, começa a envolver uma série de sentimentos e outros fatores subjetivos que dificultam o cuidado em geral.”
Ambos destacam que o fato de o diabetes frequentemente não apresentar sintomas nos estágios iniciais reduz a adesão ao tratamento. “A pessoa está com a glicemia alta, mas não está sentindo nada. E se ela não está sentindo nada, ela pensa: por que eu vou me esforçar tanto?”, pontua Scandolara.
O diabetes exige muito tempo e dedicação do paciente
Por causa desse cenário desafiador, o governo federal criou o programa Previne Brasil, que busca incentivar as prefeituras a melhorarem seus índices de atendimento em sete indicadores. O atendimento a pacientes diabéticos é um deles. A baixa adesão, no entanto, tem resultado em perda de verbas para a saúde em muitos municípios.
Desafio
Para reverter essa situação, especialistas apontam a necessidade de tornar o tratamento mais acessível e prático. “Quanto mais fácil for contar carboidrato, calcular a dose de insulina e buscar orientação sobre como se cuidar, mais pessoas conseguirão aderir ao tratamento”, afirma o médico.
Nesse contexto, surge uma inovação promissora: a Tia Bete, uma assistente virtual baseada em inteligência artificial, desenvolvida por uma equipe multidisciplinar liderada por Scandolara e Muller. Acessível gratuitamente via WhatsApp, a Tia Bete oferece suporte personalizado, auxiliando na contagem de carboidratos, cálculo de doses de insulina e fornecendo informações educativas sobre o diabetes. “A Tia Bete nasceu com a missão de transformar a gestão diária do diabetes em uma experiência simples e prática”, explica Felipe Muller.
A ferramenta já conquistou reconhecimento pelo Prêmio Walter Minicucci de Inovação em Diabetes e está incubada pelo InovaHC da USP. Além disso, a Tia Bete está sendo implementada em um projeto piloto na cidade de Bofete, São Paulo, demonstrando seu potencial de integração com o sistema público de saúde. “Estamos extremamente comprometidos com essa missão, com uma equipe dedicada que compartilha o sonho de tornar essa visão uma realidade”, declara Muller.

Tia Bete ensina a contar carboidrato e otimiza a rotina de pacientes
Visão humanizada
A Inteligência Artificial que faz a Tia Bete auxiliar mais de 35 mil pessoas é toda desenvolvida por humanos altamente qualificados. A ferramenta foi criada por médico e nutricionista e é alimentada a partir das diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. “A pessoa pode conversar com a Tia Bete por meio do WhatsApp, mandando áudios com as suas dúvidas. As orientações são repassadas em uma linguagem acessível e carinhosa. É como se uma tia experiente estivesse tirando as dúvidas das pessoas. E é muito mais fácil aprender em um ambiente que acolhe”, comenta o nutricionista.
A iniciativa representa um passo importante na democratização do acesso à informação e suporte para pacientes diabéticos. “A educação pode alertar sobre os riscos da doença e sobre os cuidados que devem ser tomados. Só assim o paciente pode enxergar a necessidade de se cuidar”, comenta o médico.
Ao simplificar o manejo diário da doença, a Tia Bete pode contribuir significativamente para aumentar a adesão ao tratamento, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e, potencialmente, reduzindo os custos para o sistema de saúde. “Ferramentas que possam encurtar o tempo gasto para fazer esse autocuidado e que possam auxiliar o paciente na tomada de decisão farão com que ele aumente a adesão ao tratamento. É isso o que a gente se propõe a fazer com a Tia Bete”, completa Muller.
Sobre a Tia Bete
A Tia Bete é uma assistente de IA projetada por um corpo clínico formado por médicos e nutricionistas e treinada a partir das diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. Nasceu com a missão de transformar a gestão diária do diabetes em uma experiência simples, prática e inclusiva. Tia Bete oferece suporte personalizado e funcionalidades como contagem de carboidratos, cálculos de insulina e dicas sobre estilo de vida saudável, tudo com o tom leve e acolhedor. Reconhecida pelo Prêmio Walter Minicucci de Inovação em Diabetes, a Tia Bete está incubada no InovaHC e vem sendo usada no SUS em um projeto piloto na cidade de Bofete, em São Paulo. Gratuita, a ferramenta é acessada pelo WhatsApp adicionando o número (+55 11 98050-9019) na agenda e iniciando a conversa com um simples “Olá!”.