Depois de vencer um câncer, a comerciante Maria Jaciene Alves da Silva, de 50 anos, voltou a viver plenamente há seis meses. Sem condições financeiras de fazer uma reconstrução mamária, ela encontrou na ONG Em Boas Mãos o apoio que precisava para ter uma vida feliz e completa. “Eu deixei de fazer muita coisa porque não tinha feito a cirurgia de reconstrução. Nem trocava de roupa na frente do meu marido. Hoje minha autoestima aumentou, eu vivo bem e me sinto maravilhosa”, resume.
Como Jaciene, dezenas de pacientes tiveram suas vidas transformadas por cirurgias e procedimentos reparadores que devolveram a autoestima, a vontade de viver e colocaram fim a um ciclo de bullying e discriminação que trazia sérios danos à saúde mental. “A ação dos nossos profissionais na vida dos pacientes é transformadora porque possibilita que a pessoa perceba que ela pode mais, que ela não é aquele diagnóstico, que o potencial dela é muito maior do que uma condição física”, afirma a fundadora e presidente da ONG, Beatriz Guedes.
Com uma equipe formada por médicos cirurgiões, psicólogos, esteticistas, anestesistas, assistentes sociais e voluntários, a ONG atende moradores da Grande São Paulo. Os candidatos passam por uma triagem e seleção. “Quando realizamos uma cirurgia reconstrutora ou um tratamento estético de correção, damos a oportunidade para as pessoas reconstruírem suas trajetórias”, define Beatriz.
A entidade, que é pioneira na realização de procedimentos reparadores de caráter estético, acolhe pessoas que sofrem discriminação por causa de sua aparência e que não têm condições financeiras de pagar por tratamentos que não se encaixam no SUS. Muitos procedimentos são gratuitos, mas, em alguns, os beneficiários pagam preços mais acessíveis que os praticados no mercado. “Não fazemos apenas uma cirurgia, tratamos o todo por meio de intervenções multidisciplinares. Com atendimento psicológico, ressignificamos traumas, feridas e cicatrizes emocionais, ajudamos as pessoas a reconstruir a vida delas”, explica a fundadora da ONG.
A estudante Taiane Ribeiro Ferreira, de 18 anos, é hoje um reflexo do trabalho da Em Boas Mãos. Quando tinha um ano, começaram a aparecer verrugas no seu rosto e pescoço. “Eu via que era diferente, ficava chateada e queria ser como os outros. Algumas pessoas olhavam assustadas para mim e eu não usava cabelo preso para disfarçar”, lembra.
A moça procurou procedimentos para a remoção, mas eles custavam cerca de R$ 15 mil e a família não tinha recursos. “Quando meu caso chegou às mãos da Beatriz, ela disse que poderia me ajudar. Há quatro meses fiz o procedimento (de remoção das verrugas) e a minha vida mudou. Estou bem mais feliz, minha autoestima melhorou muito, uso cabelo preso e sinto que a forma como as pessoas me olham mudou”, diz Taiane.
Depois de ser submetido à correção de prominauris, Marcelo Vieira, de 27 anos, deixou os traumas do bullying no passado. Ele teve a vida transformada por meio de uma cirurgia que custaria R$ 8 mil em uma clínica particular. Os ganhos que teve na sua vida, no entanto, são incalculáveis. “Se você não tem segurança, você não faz nada. Se você não confia em si mesmo, o que você faz na vida?”, resume, ao comentar o impacto que a cirurgia teve na sua vida.
Saúde mental
A psicóloga da ONG, Bárbara Generozo Capato, detalha o impacto desses procedimentos na vida dos pacientes. “Nesses casos, o conceito de cura não deve ser unicamente baseado na recuperação biológica, mas deve incluir também o bem-estar, a sobrevivência psíquica, a autoestima e a qualidade de vida”, conta.
Segundo a especialista, esses procedimentos têm impacto direto na autoestima dos pacientes, melhorando aspectos emocionais, físicos e sociais. “Essa mudança que permite a reabilitação e a melhora do bem-estar dos pacientes, contribuindo para a inserção do indivíduo na família e na sociedade”, completa.
Procedimentos disponibilizados
Entre os procedimentos disponibilizados pela ONG Em Boas Mãos estão reconstrução mamária pós-câncer, correção de prominauris, lábio leporino, retirada de verrugas, tumores cutâneos, tratamento dermatológico para pessoas queimadas ou acidentadas, tratamento odontológico e psicológico.
Triagem
O processo de seleção de pacientes é feito por meio de inscrição no site. A assistente social analisa os documentos e agenda uma avaliação médica. “Nessa avaliação solicitamos os exames e o apoio da equipe multidisciplinar, de acordo com cada caso. Depois disso fazemos o direcionamento para a pessoa iniciar o tratamento ou procedimento”, completa Beatriz.
Doações
Além de combater a discriminação estética e o bullying, a entidade oferece acompanhamento psicológico e desenvolve campanhas beneficentes, como a de arrecadação de alimentos e de agasalhos.
Os custos de operação são pagos por meio de doações, que podem ser feitas no site https://emboasmaos.org/.