Dona foi enviada à Amazônia com a missão de ocupar parte da floresta e transformar o mato em pasto. Ela é um misto de empresária da economia global e agente de novas oportunidades, e vai acompanhada por dois atrapalhados ajudantes nessa expedição. Mas chegando lá, a personagem se depara com pessoas, animais e entidades capazes de mudar completamente seus pontos de vista e percepção sobre a natureza.
Contemplada pelo edital ProAC 06/2019 e integrante de uma tetralogia, Samaúma – A Árvore Mãe é uma produção da Cia da Tribo, que comemora 25 anos em 2021. Criado por Milene Perez e Wanderley Piras, o grupo trabalha há décadas com artistas especialmente convidados para cada uma de suas produções.
Nesta peça, a Cia compartilha com o público uma leitura poética sobre símbolos e mitos ligados à árvore Samaúma, considerada sagrada por diversos povos originários. Com a temática e a estrutura previamente pesquisada pelo grupo, Milene e Wanderley decidiram convidar o dramaturgo Marcelo Romagnoli para escrever o texto final da obra. “O argumento e a visualidade já estavam bem estruturados, então fui convidado para propor alguns caminhos e referências à peça, incluindo uma mensagem importante sobre a preservação da natureza sem cair nos lugares comuns, fazendo com que o público reflita verdadeiramente sobre isso”, conta Romagnoli.
Para o dramaturgo, empatia é o termo que mais faz sentido para a concepção do espetáculo, já que é a partir do contato com a Samaúma – uma das maiores da Amazônia e considerada a ‘árvore rainha’ – que a personagem Dona revê a maneira com que lida com a natureza. “A samaúma é uma árvore protetora, doadora de vida e que representa muito para os povos das florestas. Na peça, ela é o elemento central que gera mudança nos personagens”, adianta.
Milene Perez, co-fundadora da Cia da Tribo, reforça que a interação com Marcelo foi a realização de um desejo que tinham desde que conheceram o trabalho do artista na Banda Mirim. “Sentimos muito rápido uma afinidade com ele e percebemos o quanto esse trabalho, que já estava cheio de referências, pedia por um autor”, ressalta Milene.
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Samaúma é o nome de uma grande árvore da Amazônia, considerada sagrada para muitos povos das florestas. Debaixo de seu tronco, acreditam existir um mundo misterioso, habitado por seres e espíritos mágicos. Essa árvore, que pode chegar a 80 metros, abarca um ecossistema imenso ao seu redor e é tida por muitos indígenas como uma mãe. Um dos mitos a seu respeito conta sobre uma comunicação possível entre indígenas por meio das raízes imensas dessa árvore, que se espalham por grande extensões territoriais na mata.
Os bonecos
Para contar essa história, a Cia da Tribo faz uso de vinte bonecos, alguns deles confeccionados artesanalmente por Dino Soto com fibras naturais, palha, peneiras, cabaças e colheres de pau, entre outros materiais. A outra família de bonecos, criada pelo também diretor do espetáculo e co-fundador da Cia, Wanderley Piras, é composta por peças com iluminação interna feita com neon, fitas de led e revestidas por um material chamado tubox. As luzes são acionadas pelos próprios atores-manipuladores por meio de um sistema de fios elétricos e baterias armazenadas em cintos.
“Eu já tinha alguma experiência com luz interna em bonecos por causa de trabalhos anteriores, mas nesta peça me aprofundei muito nesses estudos, aprimorando mais a materialidade e reforçando a parte técnica para gerar novas camadas à Samaúma”, conta Wanderley. O diretor ressalta que a família dos bonecos do mundo terreno e do mundo espiritual – os iluminados – criam um efeito sensorial muito distinto, o que também inclui as escolhas para iluminação do palco.
Na primeira parte, há uma ênfase maior ao cenário como um todo e, na segunda, após Dona ser picada pela cobra e iniciar sua jornada espiritual, as únicas luzes aparentes são as luzes próprias de cada ser. Uma curiosidade ressaltada pelo diretor é que Dona também terá pulseiras de led nos seus punhos, que serão manipuladas pela atriz para dar ênfase ao seu rosto e tronco nos momentos em que o palco estiver mais escuro. O recurso também reforça o processo de transformação da personagem – a sua própria iluminação diante dos seres que ela conhece.
Milene ressalta que a luz é uma metáfora forte para representar o processo de transformação vivido por Dona. “Foi muito importante que a personagem trouxesse esse lugar da contradição e não apenas um espectro do bem e do mal. Ela é uma pessoa equivocada, que chega a um lugar desconhecido e desapropria por causa de dinheiro, de documentos, mas em sua jornada ela se mostra disponível para conhecer um outro lado da questão e se deixar afetar por ele”, conta.
Sobre os figurinos, assinados por Milene, a artista conta que se pautou pela estética da cultura popular e contemporânea e, dessa vez, teve como ponto de partida as queimadas na Amazônia. “Meu processo de criação passa pela pesquisa histórica, pelo diálogo constante com o diretor e pela minha percepção de mundo, do aqui e agora. A floresta está em chamas e eu me sinto destruída, um pouco de mim está queimando. Para a criação dos figurinos-base do espetáculo, percebi que deveria trazer toda a beleza que reside na floresta, mas também sua dor. O fogo das queimadas é representado através de pinturas feitas a mão. São saias pintadas com partes de bichos da floresta com suas cores vibrantes, mas chamuscadas pelo fogo.A floresta faz parte de nós e nós estamos queimando junto com ela. Este é um figurino denúncia”, conta.
A Cia da Tribo estruturou Samaúma – A Árvore Mãe como um trabalho que poderá ser apresentado nos palcos, com o público, da mesma forma em que será transmitido em formato digital. “A captação de vídeo, feita pela cineasta Karina Barros, privilegia muito o aspecto teatral dessa montagem – queremos que o público se sinta de fato perto da gente enquanto não é possível que ele esteja lá, de fato”, diz Milene. Antes de cada exibição, a Cia da Tribo vai conversar rapidamente com o público, recepcionando-o para o espetáculo que se inicia em seguida.
Tetralogia – o próximo e último passo
Milene Perez também antecipa que a luz, elemento tão presente em Samaúma – A Árvore Mãe, é o ponto de partida para o espetáculo Lume, trabalho ainda em processo de criação que encerra a tetralogia da Cia da Tribo, composta por peças que exercitam o diálogo com questões relacionadas ao meio ambiente, junto com Pé de Vento, Água Doce e Samaúma – A Árvore Mãe. Em Lume, a Cia vai partir do fogo como uma metáfora para discutir o obscurantismo que já foi vivido na civilização e de seu retorno, de tempos em tempos.
Sinopse
Samaúma – A Árvore Mãe é um espetáculo que trata das relações entre o ser e o meio ambiente, inspirado pelos mitos e pela realidade contemporânea, em especial a indígena em suas florestas. Feita com atores e a manipulação de bonecos, é recomendada para todas as idades. Samaúma conta a história de uma missão na Amazônia – com uma dupla atrapalhada à frente e sua chefa, a Dona – com a função de ocupar e transformar em pasto parte da mata. Mas todos saem transformados da incumbência, e a grande responsável por isto é a empatia.
Sobre a Cia da Tribo
O grupo paulista Cia da Tribo, fundado pelos artistas Milene Perez e Wanderley Piras, iniciou seu trabalho de pesquisa em cultura popular em 1996. A sua linguagem cênica foi desenvolvida através do estudo de tradições populares, personalidades e corporeidades brasileiras. Histórias, músicas, danças e bonecos criados pelo povo em diversas regiões do país são investigados, apreendidos, recriados e trazidos à cena, construindo assim, uma teatralidade brasileira.
FICHA TÉCNICA
Texto: Marcelo Romagnoli
Direção: Wanderley Piras
Atuação: Milene Perez, Marina Albuquerque, Daniel Sapienza e Wanderley Piras
Preparação Corporal: Factima El Samra
Produção Executiva: Gabriel Bueno
Fotografia: Sérgio Silva
Bonecos: Dino Soto
Bonecos Iluminados: Wanderley Piras
Cenografia: Wanderley Piras, Dino Soto e Thiago Paiva
Figurino: Milene Perez
Adereços de Cena: Thiago Paiva
Iluminação: Ricardo Silva
Trilha Sonora: Magda Pucci
Design Gráfico e Mídias Digitais: Gabriel Bueno
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto
Produção Geral: Cia da Tribo
SERVIÇO
Samaúma – A Árvore Mãe
Duração: 50 minutos
Classificação etária: Livre
Grátis
Exibição pelo Facebook e Youtube dos seguintes espaços:
Teatro Alfredo Mesquita
Simultaneamente no:
Facebook do Teatro: https://www.facebook.com/teatroalfredomesquita
YouTube – https://www.youtube.com/TeatroAlfredoMesquita
Facebook da Cia da Tribo: https://www.facebook.com/CIADATRIBO
Data: 12 e 13 de junho de 2021, sábado e domingo, 16h
Cia da Tribo
Simultaneamente no:
Facebook: https://www.facebook.com/CIADATRIBO
YouTube – https://www.youtube.com/user/PirasWanderley
Facebook da Casa da Ladeira (Espaço Cultural da Cia da Tribo): https://www.facebook.com/acasadaladeira
Data: 12 e 13 de junho de 2021, sábado e domingo, 16h
Teatro Cacilda Becker
Simultaneamente no:
Facebook do Teatro: https://www.facebook.com/TeatroCacildaBeckerSP
YouTube – https://www.youtube.com/channel/UCnXGLvmqpJFR3kVYUW1abxQ
Facebook da Cia da Tribo: https://www.facebook.com/CIADATRIBO
Data: 19 e 20 de junho de 2021, sábado e domingo, 16h